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Enfermeira denuncia riscos de viagens em ambulâncias e secretário de Saúde de Vilhena anuncia medida contra “pressa”

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Bate-volta faz com que alguns condutores dirijam por mais de 16 horas seguidas

Vilhena, RO - Diante da perda trágica de colegas de trabalho, que morreram dentro de uma ambulância fazendo o transporte de uma paciente grávida de Vilhena para Porto Velho na última sexta-feira, 18, uma enfermeira que executou o mesmo trabalho até o ano passado, procurou o FOLHA DO SUL ON LINE para falar sobre os riscos desse tipo de viagem.

A morte das cinco pessoas, incluindo a própria grávida e seu bebê, após a ambulância em que o grupo estava bater de frente em uma carreta na BR 364, levantou questionamentos sobre a jornada de trabalho dos motoristas, que fazem o trajeto de mais de 700 km, e que podem ser vencidos pelo cansaço.

Inclusive, o fato de a ambulância invadir a pista contrária e atingir a carreta, seria um indício de que o condutor teria dormido ao volante. Porém, somente o laudo da POLITEC revelará o que aconteceu na rodovia federal na madrugada fatídica.

A enfermeira, que deixou a função há seis meses, mas mantém contato com ex-colegas que continuam prestando o serviço, disse que existem apenas 4 motoristas que fazem esse tipo de viagens saindo de Vilhena para levar pacientes até hospitais de outras cidades.

Segundo a entrevistada, que tem 26 anos e preferiu não se identificar, os condutores de ambulâncias recebem R$ 350,00 de diárias para irem até Cacoal, e R$ 700,00 para viagens a Porto Velho. Médicos ganham R$ 1.200,00 quando acompanham pacientes até Cacoal, e R$ 2.400,00 se forem para a capital. Em ambos os casos, os valores são para ida e volta.

No caso das enfermeiras que não são da rede municipal, elas não recebem qualquer adicional para colocarem suas vidas em risco. Mas todos os que chegam à capital encontram à sua disposição, acomodação e refeições na Casa de Apoio mantida lá pela Prefeitura de Vilhena.

A enfermeira que se manifestou sobre a situação disse que nunca chegou a ver nenhum motorista cochilando de cansaço durante o trajeto. Mas uma colega dela não apenas testemunhou isso como denunciou o caso à direção do Grupo Chavantes, que administra o Hospital Regional de Vilhena.

O site conversou com o secretário de Saúde de Vilhena, Wagner Borges, que voltou a lamentar a tragédia. Ele disse que pretende adotar uma medida contra supostos excessos de velocidade dos motoristas de ambulância, que fazem o trecho em cerca de 8 horas, em média.

A enfermeira denunciante disse que os motoristas geralmente fazem três paradas até Porto Velho, nas seguintes cidades: Pìmenta Bueno, Ouro Preto do Oeste e Itapuã do Oeste. E alguns fazem um “bate-volta” (ou seja, ida e retorno sem descanso a Porto Velho), o que significa que eles dirigem por mais de 16 horas seguidas.

Wagner Borges reconhece que, para médicos e motoristas, as viagens são uma oportunidade para melhorar os rendimentos, mas pretende evitar que a pressa durante os deslocamentos acabe em outras tragédias.

O titular das Semus anunciou que irá instalar tacógrafo em todas as ambulâncias. “Não há justificativa para tanta correria, justamente porque uma equipe de profissionais mantém a estabilidade do paciente durante a viagem. E se houver alguma emergência, o motorista pode parar no hospital mais próximo”, finalizou.

Fonte: Folha do Sul

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