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Indígenas iniciam reflorestamento de mais de 350 hectares em Rondônia e Mato Grosso

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Mais de 300 iniciativas em sete terras indígenas em Rondônia e uma no noroeste do estado de Mato Grosso iniciaram o processo de restauração florestal de mais de 350 hectares de áreas degradadas dentro dos territórios. Desde outubro do ano passado, a Ação ecológica Guaporé – Ecoporé tem concentrado os esforços das equipes para a entrega de mudas nas aldeias e também no auxílio às comunidades para realização do plantio nas áreas maiores. No total, mais de 350 mil mudas devem ser entregues até o final do mês de fevereiro.

O projeto Nossa Floresta, Nossa Casa: 1 Milhão de Árvores prevê o plantio de um milhão de mudas por meio da implantação de sistemas agroalimentares diversificados nas Terras Indígenas Zoró (TIZ) – localizada ao noroeste do MT, Sete de Setembro (TISS), Kwazá do Rio São Pedro (TIK), Mequéns (TIM), Rio Branco (TIRB), Tubarão Latundê (TITL), Roosevelt (TIR) e Igarapé Lourdes – (TIIL), numa cooperação entre Ecoporé, a iniciativa Comunidades e Governança Territorial da Forest Trends, Rede de Sementes do Xingu, apoio da Fundação Arbor Day e parceria das associações e comunidades indígenas.

A escolha das espécies produzidas foi feita com base no interesse das comunidades, como as frutíferas, artesanais e medicinais, formando um banco de 452 matrizes cadastradas, voltadas à inclusão socioprodutiva dos povos indígenas e a recuperação florestal de áreas alteradas e/ou degradadas. Além das mudas, foi realizado também plantio direto de duas toneladas de sementes de 56 espécies diferentes em uma área de 40 hectares, por meio da técnica de muvuca.

Para a produção das mudas e composição do mix de sementes utilizadas na muvuca, além da compra de fornecedores parceiros e dos próprios indígenas, foram coletadas 124 mil quilos de sementes pela equipe da Ecoporé. “É válido ressaltar que as coletas são realizadas em matrizes qualificadas, de boa qualidade, que apresentam aspectos saudáveis, vigorosas, com copa sadia, que não possuem sinais evidentes de ataque de pragas e doenças”, explica o biólogo da Ecoporé Paulo Bonavigo, coordenador do projeto. Ele detalha, ainda, que durante as coletas os frutos e sementes são apanhados e, dependendo da espécie e do tipo de fruto, eles são colhidos no chão ou na própria árvore com auxílio de escada, podão ou a técnica de rapel pela equipe com a utilização de equipamentos de segurança.

Plantio

Para elaboração dos arranjos foi levado em consideração a longa experiência da Ecoporé e seus técnicos sobre a implantação de sistemas agroflorestais produtivos, associado ao etnoconhecimento dos povos indígenas e aos interesses específicos para o fortalecimento da economia de cada comunidade.

Antes da entrega das mudas, as iniciativas receberam visitas e orientações dos técnicos para preparação das áreas, entrega de adubos e calcário, bem como medidores e ferramentas para aplicação dos insumos, forma de manuseio e plantio das mudas.

Muvuca

Cerca de 40 hectares na Terra Indígena Zoró, em Rondolândia (MT), foi a área definida para receber o plantio direto por meio da muvuca. O processo começou com o preparo da área de forma mecanizada, com trator e grade de arado, para eliminar a densidade do capim. Uma segunda gradagem foi realizada após 15 dias, desta vez para eliminar a rebrota e germinação do banco de sementes da vegetação indesejada.

Com a área pronta, a Rede de Sementes do Xingu realizou uma oficina com indígenas de diversas iniciativas e TIs diferentes, a fim de repassar a técnica e capacitá-los para reprodução em outras áreas. “Foi muito bom pra mim, aprendi muitas coisas com a equipe, como reflorestar e voltar a ter floresta é o que a gente queria. Antigamente a floresta era a nossa casa, quando queimou tudo a gente ficou muito triste. Os animais ficavam perto e agora estão longe. E isso a gente quer que volte, é o nosso desejo” diz Katiele Pandere Zoró, da aldeia José, na TI Zoró, que acompanhou todo o processo no território.

O trabalho começou com a separação e pesagem das sementes por espécie. Foram 2.123.226 quilos de sementes de 56 espécies, numa média de 53 quilos por hectare a ser recuperado. Parte das sementes utilizadas para compor o mix foram coletadas em árvores matriz cadastradas pela Ecoporé, outras através da compra com fornecedores agroextrativistas da agricultura familiar, de Reservas Extrativistas e Terras Indígenas, bem como aquisição através da Associação de Rede de Sementes do Xingu.

Após a pesagem, as sementes menores e mais rígidas foram misturadas, de forma a serem lançadas de forma homogênea em toda a área com utilização de um trator e uma adubadeira/semeadeira. Já as sementes maiores e as mais frágeis foram separadas para lançamento“Com a utilização da técnica de plantio do mix de sementes, conseguimos ampliar a capacidade de plantio, aumentando as áreas através da mecanização e incorporação de tecnologias. Sementes que germinam diretamente no solo possuem maior resistência do que se estivéssemos plantando mudas, além, é claro, da velocidade de plantio, que é muito mais rápida”, explica Bonavigo.

Roberto Pabixawamba Zoró, da aldeia Barreiras, também participou de todo o processo de muvuca e, segundo ele, a ação traz uma nova experiência e um incentivo para a recuperação da área. “Isso pode trazer uma vida para o solo e para os animais. É um pedaço muito grande, que perdeu muita mata, então é benefício pra nós, pros animais e pro solo”.

Ainda de acordo com o coordenador do projeto, a área seguirá sendo monitorada pela equipe técnica, a fim de avaliar o sucesso e os problemas do plantio, possibilitando uma melhoria do conhecimento nos processos de restauração florestal, através dos ajustes dos erros e replicação dos acertos. “Com isso, esperamos melhorar a técnica e ampliá-la para outros territórios”, finaliza.

Após a finalização dos plantios, as comunidades seguem com a manutenção das áreas para garantir a saúde das plantas, com o apoio das equipes de monitoramento da Ecoporé, Forest Trends e Rede de Sementes do Xingu.


Fonte:Rondoniagora

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